A pintura como devir

A pintura como devir

A experiência face ao descortino da pintura-escultura – se assim pudemos chamar, uma vez que a sua obra não se confina ao espaço da cor – de Isabel Ferreira Alves é a de que toda a tela é a ausência da matiz que ocupa. Frente à vacuidade gerada pela obra ainda no seu devir, cabe moldar um corpo capaz de conceder um espaço a toda a ausência. Assim, creio vivamente que toda a tela é um ser que respira para findar o vazio que lhe foi imposto antes de ser gerado. A obra de Isabel Ferreira Alves é, sem dúvida, uma contínua busca da prestação desse corpo como pintura. Saber ler as cores e com elas mergulhar no espaço infindável do ser é somente acreditar que em cada obra da autora toda a ausência termina no acolhimento do corpo que se avizinha para figurar a existência do gesto que concede toda a pintura como devir.

Carlos Vaz - Escritor

(Caminha, 2004)

Painting as potence

The experience face to the unveiling of painting-sculpture – if we can call it thus, for her art does not confine itself to space and collour – from Isabel Ferreira Alves is that all the canvas is the absence itself of the hue it inhabits. Face to the vacuity generated by the piece as yet in its potence, it becomes necessary to shape a body capable of granting a space to all absence. Thus, I strongly believe that all the canvas becomes a living being that breaths, in order to cease the void that was imposed upon on him, even before its conception. The work of Isabel Ferreira Alves is, undoubtably, a continuous search for that body’s lending as painting. To be able to read the collours and with them dive into the limitless space of being, is only to believe that in each and every work from the author all absence concludes with the welcome of the arriving body, in order to give shape to the existence of that gesture wich concedes all painting as potence.

Carlos Vaz - Writer

(Caminha, 2004)